sábado, fevereiro 19, 2011

Sábado 19.02.2011

Eu deveria cuidar de mim como quem abraça o próprio filho ou abarca a mais sublime visão com a retina dilatada pela beleza de estar presa às veias e os glóbulos - vermelhos como meus olhos, e quentes como o ardor da pele seguida do calafrio - tudo junto e separado.
Acho que estou me sentindo exclusa da natureza, mas essa sensação é falsa. Provém da velha sensação de casa vazia depois das visitas de filhos, netos e parentes. Lembrando que a esta altura, você, no caso eu, dentro do contexto, não tenho mais pais. O mesmo monstro que os engoliu nos cerca. Na verdade, o oco provém da certeza, logo após, de que não tinha ninguém em casa e somos estéreis.
Meu corpo parece pertencer à classe dos almoços póstumos, que hoje congelados enfeitam o fundo da geladeira, logo atrás da garrafa semi-vazia de vinho seco. E assim continua o dia; chuva, sol, calor e frio.
Querem ver o cristo na cruz outra vez, hein? Acabei de me lembrar que é um teatro, e que eu estou desempenhando um papel de merda. Meu personagem não era este. Estou sendo sacrificada no ritual de culto ao medo. Um navio pirata vem vindo atrás da neblina.